Envelhecer

Laura Vieira

10/26/20251 min read

Envelhecer é inevitável, mas a forma como encaramos esse processo é uma construção. Esse caminho, que por natureza deveria ser de colheitas e descobertas, ainda carrega o peso do medo e do preconceito.

Culturalmente, a velhice costuma ser enquadrada como uma terra de perdas. É uma narrativa focada no declínio que nos é contada desde cedo, da beleza que se esvai, da autonomia que se fragiliza, do trabalho que se encerra e, com ele, um senso de propósito que se distancia. Os papéis sociais que antes nos definiam mudam, e muitos se sentem invisíveis.

Mas envelhecer não precisa ser sinônimo de apagamento. Pode, e deve, ser um tempo de presença. Um tempo de sabedoria sob uma perspectiva única que só os anos trazem, capaz de diferenciar o urgente do importante. Pode ser um momento de olhar para a própria história, não com nostalgia, mas com entendimento, e perceber que, mesmo com as marcas do tempo, ainda há muito por viver. E viver de forma inteira.

O grande desafio é que, coletivamente, chegamos à velhice sem preparo. Não somos educados para envelhecer. Chegamos a essa fase sem apoio emocional adequado, muitas vezes vendo nossa rede social se encolher, e sem as ferramentas internas para lidar com o que o tempo, inevitavelmente, nos traz.

Por isso, o envelhecer pode e precisa ser ressignificado. Isso exige um movimento ativo, tanto individual quanto coletivo. Exige que o envelhecimento deixe de ser o peso daquilo que se perde para ser a celebração do que permanece, do que se transforma e, principalmente, do que ainda pode florescer.

Talvez a grande virada seja esta: desconstruir o medo e enxergar a velhice não como o fim do caminho ou uma sala de espera, mas como a chance de vivê-lo com mais profundidade e verdade. Não é o ponto final, mas um novo ponto de observação, de onde se pode, talvez pela primeira vez, enxergar a paisagem inteira com mais clareza e aceitação.