Luto Infantil
Laura Vieira
10/26/20252 min read
O luto infantil expõe uma contradição dolorosa na forma como os adultos lidam com a finitude: a tentativa de "proteger" a criança através do silêncio sobre a morte é, na verdade, o que aprofunda seu sofrimento. A criança, capaz de perceber o vazio e sentir a ausência de alguém querido, muitas vezes é impedida de nomear e processar sua própria dor. Negar a ela o direito de chorar, perguntar e elaborar sua perda não seria a maior das crueldades?
Muitos adultos, por dificuldade em lidar com a própria dor, evitam o tema, acreditando que a criança não é capaz de compreender a morte. No entanto, a literatura especializada aponta que falar sobre o assunto de forma clara, honesta e afetiva não acelera o sofrimento; pelo contrário, permite que a criança encontre caminhos para expressá-lo. A comunicação honesta é fundamental para que a criança elabore o luto de maneira saudável. Quando os adultos invalidam as emoções infantis, a criança pode sentir que seus pensamentos são insignificantes, levando-a a reprimir sua dor e, por vezes, a inverter papéis, tentando cuidar do adulto em luto.
Cada criança vivencia a perda de maneira singular. Algumas utilizam desenhos, outras se calam, e há aquelas que fazem perguntas repetidamente. O fundamental é reconhecê-las como sujeitos de sua própria dor, e não como meras espectadoras da perda familiar. É preciso criar um ambiente de amparo que valide seus sentimentos e permita a expressão de medos e dúvidas. Estratégias como o uso de literatura infantil, fantoches, desenhos e rodas de conversa são ferramentas valiosas para auxiliar a criança a manifestar suas emoções.
Falar sobre a morte com uma criança é um ato de amor e honestidade. Significa transmitir a mensagem de que, embora o medo e a tristeza existam, eles não precisam ser enfrentados sozinhos. Ao incluir a criança nos ritos de despedida e validar seu sofrimento, a família a ajuda a compreender a finitude da vida e a construir a noção de que o amor permanece, mesmo após a partida de quem se ama. Afinal, o luto é uma experiência inerente à vida, e vivenciá-lo de forma amparada é essencial para um desenvolvimento saudável.